Por Camila Smith
Desde os meus saudosos 6 anos eu sabia que moraria na Inglaterra.
Sabe aquele sentimento incubado que simplesmente floresce a cada dia, aquela certeza que ninguém te tira, sem explicação de como realmente aconteceu/começou? Nessa proporção era o meu “saber” com relação a minha morada.
Sem entrar em muitos detalhes (ou tentar já que detalhes são itens essenciais no meu viver, descrever as coisas e comparar da maneira mais visual possível é meio que minha missão nesse universo) por agora at least, esse meu anseio de infância me acompanhou durante toda a adolescência das trevas e ficou ainda mais forte quando eu me tornei uma quase-adulta. Cada ser que me conheceu até então, sempre acabava sabendo do meu maior sonho mais cedo ou mais tarde.
Aos 22 anos eu finalizei minha vida acadêmica de vez ao terminar minha especialização. Aquele cume nas nossas vidas que você simplesmente não sabe mais o que fazer, para onde ir, como proceder. Resolvi mudar. Não tão glamurosa como a Rita Lee, mas definitivamente artístico enough – um dos diálogos mais cômicos da minha existência tomou parte, não foi uma grande surpresa para meus pais, actually, mas definitivamente um mini-choque. Deixei família, minha terra-natal, e os seres que eu mais amo no universo pois precisa me encontrar. Eu devia esse favor a minha mini-versão.
Cheguei em Londres numa manhã de Janeiro, alto ponto do inverno, cinzenta e nebulosa (sim, the fog is much real <3) com a cara e a coragem, e nada mais que isso, carregando uma mala com todas as expectativas de uma vida e “conhecendo” o UK por completo, de cór, nunca pessoalmente até então mas diretamente dos meus milhares de livros, discos e dona internet de cada dia. Para que você entenda meu sentimento assim que pisei em Heathrow imagina aqueles quebra-cabeças gigantes de 50,000.00 peças; agora, imagine-se levando anos e anos para completar o cenário da caixa e jamais achando aquela pecinha infeliz final; então, depois de muito quebrar a cabeça e xingar um tanto, finalmente, o último item encaixou perfeitamente e o quebra-cabeças foi finalizado = eu, assim que cheguei.
São quase 5 anos de UK, experiências únicas, tais como ganhar parabéns do Robert Smith em um estacionamento, entrar no Abbey Road Studios e ter acesso a coisas únicas do seu maior ídolo, aparecer em um álbum do Echo and The Bunnymen, enfim, histórias e mais histórias que, who knows, eu possa contar em alguma outra vez. O fato é que a mini-Camila lá aos 6 anos de idade estava tão certa que até me assusta e, cada passo que eu dou por aqui parece que ela ganha um novo presente.
Esse texto, já gigante por sinal, tem um fundamento: eu precisava prover um background e fazer com que você que está lendo essas linhas não muito coesas entendesse uma pequena porção de quem está escrevendo. E já que eu gosto de contar, explicar e descrever, eu tive a idéia de folhear as páginas do meu journal e recordar algumas das minhas primeiras impressões em 2012, na minha primeira semana em LND, minha escolhida home sweet home. E como eu sou uma keeper além de absolutamente apaixonada por música e artes, vou listar minha primeira ever playlist aqui, com algumas das músicas que mais me acompanharam nessa primeira semana, ajudaram os primeiros passos e serviram como um abraço quando eu me vi em meio a um brave new world. So, take your protein pills and put your headphones on:
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Week 1 – Start
- Wonderful Life – Black – Eu tenho um amor maior do que eu por 80`s (really??), essa canção melancólica certamente tinha que ser da década. Black (Colin) é inglês e um talento que não foi tão reconhecido como deveria. Wonderful Life tem uma letra que certamente descreveu esse momento de transição, eu lembro nitidamente de andar pelas ruas de Hampstead naquelas manhãs invernais, com o fone de ouvido e essa música no looping. “There’s magic everywhere…”
- Suffragette City – David Bowie – meu pai <3 Eu tenho todas as melhores memórias da minha vida com relação a este homem, que me acompanha há 24 anos e, óbvio, que uma das minhas maiores razões de querer vir para o UK foi ele. Suffragette City foi uma das primeiras músicas que eu escutei quando fui a uma Free House, um próprio pub, e foi a experiência mais incrível que eu poderia ter. Foi também minha trilha sonora no meu primeiro trem para Kent, minha primeira interrail trip <3
- She’s Leaving Home – The Beatles – até hoje, me desperta lágrimas os primeiros acordes de harpa dessa masterpiece <3 Eu tenho uma ligação enorme com essa letra e meio que caiu como uma luva quando mudei do Brasil. Sgt Pepper’s, by the way, é meu álbum favorito dos Beatles e celebrou seu 50 anniversary esse ano.
- Scarborough Fair – Simon & Garfunkel – essa versão, ah essa versão! <3 Scarborough Fair é originalmente uma cantiga do século 14, eles ainda tem o festival em Scarborough por aqui e eu tive a honra de visitar. Eu carreguei Bookends comigo durante todo meu primeiro mês aqui, tenho uma história interessante com Art Garfunkel que conto depois 🙂
- Half a Person – The Smiths – eu não tinha 16 anos quando cheguei aqui, mas era com certeza clumsy and shy. Essa música é uma preciosidade e fez parte de muitas andanças minhas por Euston Square, quando eu ainda tentava encontrar o caminho de volta para casa. Definitivamente, uma das minhas all time favourites dos Smiths.
- Missing Persons – Destination Unknown – Dale, a originalidade em pessoa <3 Acho que Destination Unknown era minha missão de vida sem mesmo me dar conta, essa música upbeat me deu muita inspiração para acordar e explorar lugares desconhecidos.
- Televisão – Titãs – o álbum, de preferência. Escutei durante pelo menos uma vez por semana nos primeiros dois anos, me fazia lembrar de casa com carinho e ajudava a matar a saudade. Além do que, é meu disco favorito dos Titãs, numa época em que todos eles ainda eram da mesma patota.
- Fifteen Feet of Pure White Snow – Nick Cave & The Bad Seeds – a primeira vez que eu vi neve na vida <3 Chorei, pulei, gritei e tenho mil vídeos guardados em algum lugar.
- Learning to Fly – Tom Petty – não é a toa que eu tenho essa música tatuada em mim e no meu coração <3 Tom, RIP, é um dos meus maiores ídolos, sempre e Learning to Fly descreve cada passo dado e todas as lições que aprendi e ainda tenho que aprender. Sempre me deixa um contentamento e uma sensação de que as coisas sempre tem um jeito de funcionarem. Thank you, Tom <3
- Ballad of Dwight Fry – Alice Cooper – essa música caminhou ao meu lado no meu momento mais drástico, aquelas horas em que você duvida de si mesmo e acha que talvez tenha sido uma decisão errada. Jamais me arrependi, acho que Tio Alice me ajudou, sem mesmo saber.
- Dead Souls – Joy Division / Dead Souls – Nine Inch Nails – tanto a original como a cover foram minha obsessão em Janeiro 2012, logo quando cheguei em terras reais <3 A cover é trilha de um dos meus filmes favoritos, que aliás, assistia muito em meu laptop quando chegava na proficiency.
- Love’s Not a Competition – Kaiser Chiefs – eu descobri essa música uns meses antes de mudar do Brasil e que música mais fofa <3 Meu primeiro gig em LND foi Kaiser Chiefs, por sinal, e me dá um saudosismo querido escutar.
- Just Like Heaven – The Cure <3 <3 <3 outros que eu culpo por todo amor que eu sinto por esse país. Eu tenho milhares de lembranças desses 5 anos, aventuras, todas ao som de Robert Smith e sua trupe. Just Like Heaven marca minha primeira visita ao Beachy Head (aquele penhasco lindo onde Tim Pope gravou os clipes de Close To Me e Just Like Heaven), eu lembro de cada tremor que eu senti nessa viagem e do tamanho da alegria.
E como 13 é meu lucky number, esse texto virou manuscrito, vamos encerrar porque tem muito o que contar no futuro e ninguém curte spoilers, né? 😉
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C.